D. Henriqueta de Mello Garrido

(c. 1820-?)

Nasceu provavelmente em Mértola por volta de 1820, filha de Manuel Ignacio de Mello (1761-c. 1832), Capitão-Mor de Mértola, e de sua 2ª mulher D. Antónia Maria Benedita de Vargas (casados a 3/2/1816).

F. ?

Nunca casou, mas teve um filho do Dr. João Francisco de Vilhena (16/10/1802-?), licenciado em Direito pela Universidade de Coimbra e grande proprietário em Ferreira do Alentejo:

Este filho foi Bacharel em Direito pela Universidade de Coimbra e veio a ser Visconde de Ferreira do Alentejo, por mercê de D. Luís I (12/03/1885).

Conta o GeneAll.net que "Depois do seu nascimento a sua mãe foi enclausurada num convento [...]". Nunca tinha ouvido tal e ainda não consegui obter qualquer confirmação.

Segundo se diz, D. Henriqueta não se casou com o Dr. João Francisco de Vilhena devido à oposição da família por questões políticas. No GeneAll.net diz-se que "Foi impedida pela sua família, que era Liberal, de se casar com João Francisco de Vilhena, por este ser de uma família Miguelista."

A ser essa a razão, o que me parece perfeitamente plausível, teria sido ao contrário: os Mellos Garridos eram extremamente miguelistas. O pai de D. Henriqueta, Manuel Ignacio de Mello (1761-c. 1832), foi Capitão-Mor e Governador Militar de Mértola durante o reinado de D. Miguel, o que só seria possível se fosse da confiança do Rei, e em 1828, no seu testamento, escreve o seguinte (o itálico é meu):

"Disse elle Testador, que deixa a Sua Magestade El Rey o Senhor Dom Miguel Primeiro a sua Espada do Uniforme, e hum par de Pistolas, que tirou a hum Tenente Coronel Francez nos suburbios de Arouxe a onde elle Testador encontrou o dito Tenente Coronel com huma Escolta de vinte cinco soldados os quais se Desperçarão com a força delle dito Testador, que não excedia a doze Fuzileiros, e trazendo Prizioneiro o Tenente Coronel o remeteu ao Ministro de Estado, que então hera Dom Miguel Pereira Forjáz: não hé pello valor das Ditas Armas, quelle Testador as offerece a Sua Magestade, mas sim para que as tenha no seu Arsenal, e as mande dar a hum Official que se obrigue a nunca as ter acobardadas, e defenda com ellas os Direitos de Sua Magestade, como o fez o seu possoidor [...]"

Quando Manuel Inácio de Mello morreu tinha a filha Henriqueta uns 12 anos. No testamento nomeou o filho mais velho, o Padre Eduardo Frederico de Mello Garrido, tutor dos irmãos menores. E se alguém proibiu o casamento não teria sido já o pai, que tinha morrido, mas este irmão... Este Padre também era miguelista (na época quase todos os padres seriam...), e pelo menos a irmã D. Felicidade Augusta Perpétua de Mello Garrido também, tal como José Máximo da Silva e Mello e D. Maria Máxima de Mello (irmãos de Manuel Inácio de Mello), porque os encontro todos a contribuir com quantias razoáveis para uma colecta de fundos para a causa miguelista (nas relações de donativos publicadas na "Gazeta de Lisboa" de 1832).

José Máximo da Silva e Mello foi também Capitão-Mor de Mértola depois da morte do irmão; como morreu em Espanha, suponho (mas aqui não tenho quaisquer dados) que se tenha tido de exilar depois de Évora-Monte (1834) e do exílio de D. Miguel.

Ou seja: os Mellos Garridos eram indubitavelmente miguelistas. E seriam os Vilhenas liberais? Não sei, mas como o filho foi feito Visconde pelo rei D. Luís, tenho todas as razões para supor que o pai tivesse ajudado (talvez financeiramente) a causa de D. Pedro IV ou já D. Maria II.

Este filho nasceu quando D. Henriqueta tinha cerca de 24 anos; já não era propriamente uma adolescente. Mas há que ter em conta que, à face das Ordenações Filipinas, a lei civil vigente à altura, a maioridade só se atingia aos 25 anos; só em 1867, com o Código Civil do Visconde de Seabra, a maioridade passou para os 21 anos. D. Henriqueta era, por isso, menor e necessitava para se poder casar da autorização da família (ou melhor, do Padre Eduardo Frederico de Mello Garrido, o seu meio-irmão e tutor). A falta desta parece ter sido suficiente para impedir o casamento... Note-se que um ano depois D. Henriqueta se tornaria maior e poderia casar sem necessitar do consentimento de ninguém, e que o Dr. João Francisco de Vilhena tinha na altura 42 anos, consideravelmente mais do que D. Henriqueta. Parece-me que esta história não anda bem contada, nomeadamente no Geneall.